por Chico Felitti para a Revista Galileu – 03/set/2012
Muita gente acha que reduzir as emissões de CO2 em curto prazo é uma utopia. Os alemães, porém, têm batido recordes de produção de energia elétrica via sistemas solares, e mostrado que essa hipótese não é só uma luz no fim do túnel. Entre 12h e 13h do dia 26 de maio, o país gerou 22 gigawatts de eletricidade usando apenas a luz do Sol — um recorde mundial. É o equivalente, por exemplo, a 1,5 vezes a produção de Itaipu no mesmo período. E não foi só um lampejo. Na média mensal, as placas fotovoltaicas geraram 10% da energia consumida no país.
Pelo menos duas coisas explicam os recordes. Uma delas é que desde 2000 o governo oferece subsídio para quem quer instalar placas. O cidadão que faz isso gera sua própria eletricidade e vende o excedente para os vizinhos a preços competitivos. E o que paga a conta do subsídio? Uma sobretaxa na conta de luz de quem não usa energia limpa. A estratégia faz parte do energiewende (guinada da energia), conjunto de ações do governo para reduzir emissões. Ela ajudou o país a aumentar mais de 300 vezes sua geração de energia solar nos últimos 11 anos e a se tornar líder global no quesito — o país tem 36% das placas fotovoltaicas em operação no mundo.
Mas ser verde ainda custa caro. No ano passado, a Alemanha gastou US$ 17 bilhões com energia limpa. Suja, ela custaria menos da metade, segundo o engenheiro Samarjit Chakaborty, da Universidade Técnica de Munique. E aí entra a outra explicação para os recordes alemães: A adesão popular. “Mais de 65% dos geradores são de indivíduos ou comunidades. É uma revolução civil”, diz Rainer Rahlwes, da Federação Europeia de Energias Renováveis. Por trás dessa atitude, há um misto de consciência ecológica e medo. “Depois de Fukushima, o povo alemão parece ter decidido dizer não à energia atômica”, diz o sociólogo Harald Wenzel, da Universidade Freie de Berlim, sobre a fonte de 20% da energia do país em 2010. “Hoje se pensa que não vale a pena correr o risco só para economizar.” Sem as usinas nucleares, e com a meta de cortar suas emissões pela metade até 2020, a Alemanha deve continuar batendo recordes de energia solar. Talvez neste mesmo verão.